Confundimos muito a boa Arte com uma espécie de “elevação do ser”, uma condição de superioridade moral.
Aquele que gosta ou que cria Arte é melhor, maior, mais iluminado.
Que erro!
É verdade que tanto para a apreciação quanto para a criação, é necessária certa erudição.
Do mesmo modo que só podemos entender a força da imagem da Crucificação quando temos o conhecimento prévio que ali está representado o asco dá violência e também a síntese do amor ao próximo.
E a Crucificação nos dá uma pista sobre a boa Arte, pois ela não se trata de um Ideal (propaganda) ou de uma virtude (moral). Ela é, sim, a nossa integralidade, abarca tudo aquilo que fede e que cheira bem.
Só podemos ser plenos na contemplação ou na apreciação quando descemos do palco, e é disso que se trata o Belo, de ser a mais fidedigna versão de tudo aquilo que é Real.
Então, se é bem verdade que a boa Arte não pode ser realizada sem erudição, ela também não se manifesta sem o seu oposto. Necessita de uma certa brutalidade, um tipo de selvageria para que acesse aos sentidos.
Ambientes assépticos e pessoas limpas me parecem tão férteis para a Arte quanto o cimento o é para o trigo.