Sexta-feira, 14h50
Começo a perceber que não sou capaz de absorver sensações simultâneas, o cão ladra no sol forte, mas eu só percebo o som, não o calor.
Há algo de importante na hierarquia das coisas, algo não resolvido, não importa o quanto eu queira, eu nunca posso escolher a ordem que percebo o mundo.
A relação com uma pintura é óbvia, a quantidade de variáveis são inúmeras: composição, tema, cor, valor, saturação, temperatura, textura, dimensão. Como escolher, como ordenar?
Talvez eu precise de menos controle, afinal, toda vez que busco controlar as sensações, eu crio algo de artificial nelas, algo de induzido.
É preciso pensar menos, começar a conversar na língua das cores e das formas. Parar de decodificar o sentimento. Cada vez que eu decodifico ele perde um pouco de sua essência na tradução. Mais do que dizer eu te amo, é preciso amar.
Itu tem um céu azul lavado, como todo lugar de sol no brasil, as cores perdem sua intensidade mediante a luz tão forte. Tudo é prata, tudo é azul. Nos Brasil quente é preciso ser escultórico, caso contrário as formas deixam de existir, a saturação das coisas aqui é esmagada pela luz.
As cores são preguiçosas por aqui.